segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Um aprendizado para todos, um processo de educação e formação.

Aproveito o espaço desta postagem para colocar a experiência do Sr. Luiz Carlos Nogueira Arad, bailarino profissional que, depois de muitos anos na prática diária do ballet clássico, tornou-se facilitador em trabalhos específicos com Danças Circulares Sagradas.

Claro que, neste relato, a experiência aponta especificamente para esta modalidade de dança, mas a intenção é mostrar os resultados fantásticos que podem ser alcançados pelo trabalho com a dança, qualquer que seja o estilo dentro de uma aplicação terapêutica, logo num primeiro encontro.

Além de relatar esta riquíssima experiência, a intenção aqui também é colocar a dança como importante agente de educação e formação de seres humanos mais conscientes de si mesmos e de seu corpo, de seu
valor e da real importância de cada um dentro de um amplo e significativo contexto, sempre rumo a uma melhor qualidade de vida.

A experiência relatada fala do dançar em grupo, independente da idade e do ambiente onde estas pessoas estão inseridas, guiadas por um facilitador, como forma de aprendizado, dentro de um riquíssimo processo de educação e formação de seres humanos mais conscientes de si mesmos, de seu de uma comunidade e para a humanidade, de uma forma geral.
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"Certa vez fui convidado para ser o focalizador na I Feira de Ciências, Arte e Cultura do CEES 'Valberto Fursari'. O processo de escolarização não formal lá instalado dispõe de características próprias de Educação e Metodologia que favorecem a flexibilidade, a ajustabilidade, a criatividade e a abertura capazes de atender às características personalizadas e específicas daqueles que a procuram. A clientela tem identidade própria, o que requer não só uma nova chance de escolaridade, mas um processo diferenciado de educação. O objetivo do curso também visa a participação plena do aluno nas decisões que afetem a sua vida e de toda a comunidade.

Nas diretrizes desta escola encontrei um referencial que me pareceu o canal por onde a Dança Sagrada poderia entrar no processo. Ele objetiva a 'criação de espaço onde o aluno poderá falar sobre si e sobre suas ansiedades com relação à escola e à vida particular'.

Na nossa primeira vivência, em 4 de setembro de 1995, o objetivo foi utilizar as Danças Sagradas (folclóricas) como meio de resgatar a união entre os povos. E a descoberta unânime foi que 'O movimento ajuda a expressar fisicamente a força interior'.

Como referendo, seguem as palavras de uma das organizadoras do evento: 'O movimento foi sublime. A alegria ficou empregnada em cada participante. Pudemos observar que a consciência corporal, a auto-afirmação e a valorização do indivíduo se fizeram presentes e, em consequência, alcançou um tremendo bem estar geral'. (Rosmary Costa)

Tão logo cheguei de Findhorn, do Festival de 20 anos das Danças Sagradas em 1996, fui chamado pela segunda vez para focalizar as Danças Sagradas CEES Valberto Fursari, durante um processo escolar de aulas normais e provas. Seguem-se alguns comentários relativos às duas experiências:

'Bonito, diferente, me desliga da matéria fazendo com que eu viva o momento'.

Alguns professores não podiam participar por estarem atarefados, mas vinham espiar sempre que possível. Alguns chegaram à conclusão de que faltara um esclarecimento antecipado sobre espiritualidade. Perceberam que alguns alunos se assustaram com a 'Mandala de Flores', a vela acesa e o uso do incenso, talvez devido a seus conceitos religiosos. Mas concordaram, junto aos outros professores que dançaram, que a participação do grupo foi boa e que a diferença entre as duas vivências foi a euforia da primeira e a consciência da segunda.

Para os professores sempre surge a preocupação com os alunos que acreditam que 'não sabem dançar' ou que 'não tem jeito para a coisa'. Então, antes do momento dos 'Instantes Felizes, Fazendo o Que Se Gosta', os professores evitaram  colocar os alunos em situações embaraçosas, que poderiam aparecer em decorrência da grande expectativa gerada num grupo de tão diferentes idades, valores e níveis culturais.

Ficaram surpresos com a resposta dos alunos, que foi muito além das expectativas. Resgataram a idéia de que 'cada facilitador tem o público que merece', porque, quando se faz o que se gosta, pode-se ser tocado pela inspiração. Presentearam-me com a frase: 'Se pudéssemos fazer dança todas as semanas, seríamos pessoas felizes, muito felizes'.

Destacaram também os aspectos referentes ao trabalho em grupo, ao contato com o outro, à concentração, à sequência das atividades, à leveza, à felicidade e ao prazer.

A integração do grupo foi discutida também, a partir da descoberta e da conscientização de ver-se como um SER do Planeta. O processo introdutório às Danças, num contexto ritualístico onde esclareci questões como os quatro elementos e suas direções, fez com que algumas pessoas se afastassem, talvez para se perceberem melhor como parte integrante de um todo. E, apesar disso, concluíram que tanto a inibição como a consciência ficaram resumidas na frase: 'Era só querer e se envolver'.

Com relação aos alunos, os momentos vividos nos contatos a partir da Roda trouxeram a necessidade de repetição para melhorar o entendimento, para estar de acordo com o outro e aprofundar-se com seriedade. Interiormente a sensação era de algo que se tentava conhecer, mas que estava muito distante; algo que se entende mas ainda não é compreendido com profundidade.

Para mim, eles estavam entrando em conexão com o "Sagrado" de cada um do Grupo.

Para eles, a pessoa, a presença, a comunicação, a espontaneidade, a dedicação, a afetividade e a segurança do focalizador é que trouxe esta possibilidade à tona.

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Durante esta ação, outras pessoas se manifestavam, trazendo o apoio e a segurança necessários para a realização do trabalho. Todos concordaram que, num dia frio como aquele, de repente todos ficaram aquecidos, sentindo muita energia. Sonharam com a possibilidade de dançar em grandes espaços ao ar livre, sobre amplos gramados e com instrumentos tocando ao vivo.

Professores que não conheciam as Danças começaram a perceber os 'Porquês' e as 'Respostas' que existem nos movimentos. Aceitaram o 'Ritual do Fogo' e o fato de acender a vela da Mandala para iniciar e iluminar o trabalho, reconhecendo-o como lógico e fundamentado na cultura Celta.

Para o grupo de pessoas que se deram as mãos em círculo pela primeira vez, ficou a sensação do toque e a consciência de que se continua a ser  um indivíduo dentro de um grupo em harmonia. E também ficaram a tolerância e a sutileza de perceber que, através do silêncio, se estabeleceu a comunicação amorosa".
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