Tenho uma grande preocupação e venho escrevendo bastante sobre problemas
da infância no Brasil, a medicalização e outros assuntos pertinentes a este
pedacinho da nossa população, negligenciado em muitos aspectos com relação à
educação e ao seu próprio desenvolvimento como seres humanos íntegros e
saudáveis física e mentalmente.
Foi com grande indignação e tristeza que li, em 10.08, o artigo publicado
pela colega MARINALVA COMINI, psicóloga e insrutora, falando
sobre o uso abusivo do medicamento RITALINA nas escolas. Vejam o texto a
seguir:
“Um estudo divulgado recentemente pela Anvisa com
base em dados do Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados
(SNGPC), alerta para um problema que deveria alarmar o país. Em três anos, o
consumo de Ritalina, teve um aumento de 73,5% entre crianças e jovens de 6 a 16
anos. A substância é muito empregada no tratamento do Transtorno de Déficit de
Atenção com ou sem Hiperatividade (TDAH), além de outros distúrbios
comportamentais atribuídos a questões cognitivas. O que chama a atenção de quem
procura este tipo de medicamento é o resultado imediato que ela produz. Ocorre
que este tipo de medicamento está sendo prescrito com muita freqüência,
principalmente para alunos do ensino infantil e fundamental. Fica sugestivo
pensar e notar a não preocupação dos riscos colaterais que este tipo de
medicamento causa com o uso frequente, tais como insônia, alteração do estado
de consciência e até depressão...”
Sinto muito ser franca e
direta, mas este é o tipo de situação que machuca, corrompe, causa indignação.
Pergunto: que tipo de profissional é esse que prescreve tal crueldade para
ocorrer dentro do ambiente escolar? Onde estão os profissionais psicólogos
destas instituições de ensino, onde tal crueldade acontece? Como podem permitir
tal absurdo? Falando primeiro do absurdo que é um profissional da área da saúde
ser autor ou co-autor neste tipo de procedimento, precisamos urgentemente
passar para a página dois, onde é primordial a discussão sobre o que fazer para
reverter este quadro. É preciso falar de uma série de problemas na educação,
que atingem o total despreparo dos profissionais para lidar com as questões de
estrutura e desenvolvimento destas crianças e adolescentes. E neste campo,
chegaremos a patamares bem mais profundos, ligados à precária formação de
nossos profissionais, em qualquer área. É preciso pesquisar e chegar a uma
conclusão mais precisa da causa de algumas dificuldades de aprendizado e,
assim, utilizar outros métodos mais humanos para alcançar a solução do
problema. O tempo dispensado será maior, dará mais “trabalho” e deverá ter a participação
ativa das famílias, além da participação de profissionais verdadeiramente
comprometidos com o bem-estar destes jovens e que compreendam seus processos.
Nada mais justo e ainda
é pouco, para aqueles mais prejudicados em conseqüência da ignorância e
incapacidade dos adultos.